Nandinho, como é chamado pela mãe, sonha em ser policial. Nada parecido com o cortar cana-de-açúcar, trabalho encontrado pela matriarca para tentar suprir a fome dos 12 filhos. Da casa deles, ninguém saiu alfabetizado. O sonho do caçula de ser o primeiro a ler e a necessidade de manter os R$ 172 do Bolsa Família são o despertador diário. Às 4h50, o menino está de pé. Às 5h30, coloca a sobrinha Cristiana, 4, no bagageiro, e segue em revezamento com o sobrinho Felipe, 8, na bike. Até a rodagem, local onde passa o ônibus escolar para percorrer o restante dos 5,5 km de ida até a escola, são mais 60 minutos. Depois do fim da aula, espera mais uma hora pelo ônibus, fazendo o caminho inverso. “A bicicleta eu deixo no canavial, escondida, para ninguém pegar. Com ela é mais ligeiro”, conta.
Depois da bike, o madrugar de Nandinho foi atrasado em 50 minutos. Tempo que faz diferença não só na qualidade de vida dele, que parou de reclamar de dores constantes de cabeça provocadas pelo sol, mas influi diretamente nos resultados escolares. “Antigamente ele chegava reclamando do calor, da distância e do cansaço. Cochilava com frequência em sala de aula”, garante a professora Patrícia Barbosa, 26.
As bicicletas chegaram aos estudantes pernambucanos por meio do programa Caminho da Escola, entre agosto de 2011 e julho do ano passado. À época, existiam cerca de 180 mil matriculados nas escolas da Zona Rural, dos quais 26.741 receberam as bicicletas. Os critérios adotados na escolha foram a distância percorrida para chegar às escolas, a idade mínima (6 anos) e a frequência de 75% em sala. “Em estudos, percebemos um número elevado deles a percorrer entre 10 a 12 km, sendo a maior parte a pé, pois os veículos não chegam”, explica o coordenador-geral de Apoio à Manutenção Escolar, José Maria Rodrigues.
Do Diário de Pernambuco / Alice Souza
Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press